sábado, 30 de outubro de 2010

Meu marido de batom

Hoje, na hora do almoço, recebi a divertida visita de Charlotte B. que passou por aqui para tomar uma cerveja e ouvir música.Entre um assunto e outro, perguntei se ela sabia o significado atribuído ao termo “crossdresser”. Ela disse não saber e ficou inconformada com isso. Charlotte sempre acha injusto ser a última ou mesmo a segunda pessoa a descobrir alguma coisa nesse mundo.
Quando comecei a reunir palavras para explicar o que era, ela preferiu arriscar: “Crossdresser é uma ‘coisa’ ou é ‘alguém’?”. Continuei dizendo se tratar do estilo de se vestir que alguns...Fui interrompido novamente: “Eu sou crossdresser?”. “Não, você não é”, foi a resposta.
Logo achei melhor acessar um exemplo ilustrativo. Digitei no Youtube as palavras “Laerte, crossdresser” e apareceram alguns vídeos com o famoso cartunista brasileiro, autor de tantos personagens memoráveis como Piratas do Tietê e Overman.
Contei que ele passou a se vestir com roupas femininas no seu dia a dia, mas sem ter se tornado uma drag queen. Laerte continua a ser Laerte, o que mudou foi o seu guarda-roupa.
Charlotte achou isso o máximo e até identificou o corte de cabelo dele (chanel com franja de lado) com o dela.
Segui contando que já havia lido informações sobre “crossdresser” aos sete anos e meio de idade. Ela achou isso um absurdo.
Minha mãe que era professora e dava aula para uma turma de crianças dentro de nossa própria casa, mantinha escondido, “longe” do alcance dos filhos pequenos, o famoso livro “Tudo o que você sempre quis saber sobre sexo, mas tinha medo de perguntar”, escrito por David Reuben. O exemplar foi um presente que ela ganhou de sua irmã mais nova, minha tia solteira e moderninha. Isso em 1973. Vamos amarrar o assunto: eu lia esse livro, escondido, durante o tempo em que minha mãe lecionava. Sim, eu já sabia ler muito bem e interpretar as informações. Na realidade, eu nem sei quando aprendi a ler. Para mim, eu sempre soube.
Eu lia um pouquinho a cada dia. Ao perceber que a aula estava no auge, eu escapava para a minha leitura secreta. Depois, livro escondido, voltava para a sala (eu também era aluno, não oficial, mas era).
Enquanto as outras crianças aprendiam a soletrar monossílabas, dissílabas e trissílabas, minha cabecinha estava cheia de palavras novas: orgasmo, frigidez, ejaculação, lesbianismo, travesti...
Martin era o nome fictício de um travesti marido e pai de família a quem o livro dedicava um capítulo. Nunca esqueci o nome dele. Martin era o que hoje poderia ser classificado como crossdresser. Charlotte ficou impressionada, mas também encantada. Ela disse que gostaria de ter um namorado que vestisse as roupas dela na intimidade.
Lembrei de um filme, “Armadiha do destino” (1966), de Roman Polanski. Nele um casal interpretado por Françoise Dorléac (irmã de Catherine Deneuve) e Lionel Stander (o mordomo da telesérie “Casal 20”) se divertia, ele se travestindo e ela rindo muito, quando assaltantes nada amáveis chegavam atrapalhando a brincadeira. Esse será o filme de hoje à noite no telão do cabaré. Charlotte, interessadíssima, prometeu voltar para assistir.
Agora vamos ver e ouvir "Do you really want to hurt me" com Boy George, o mais belo crossdresser de que me lembro, nos tempos do Culture Club.

Um comentário:

  1. Olá Leonce,

    O meu nome é Margarida e sou a Responsável de Comunicação do projeto Paperblog.
    Gostaria de perdir desculpa por deixar um comentário no blog, mas não encontrei outra forma de entrar em contacto. Venho convidá-lo para conhecer o projecto Paperblog: http://pt-br.paperblog.com/ cuja missão é valorizar e dar a conhecer o trabalho dos bloggers.

    Gostariamos que o seu blog fizesse parte deste projecto, uma vez que os seus artigos são muito interessantes e, tenho a certeza, que agradariam aos nossos leitores.


    Com os melhores cumprimentos,

    Margarida
    Responsável de Comunicação
    margarida [at] paperblog.com
    http://pt-br.paperblog.com/

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